AUTO PIEDADE
Existem poucas emoções tão calorosas, confortantes e envolventes como a autopiedade. No entanto, nada é mais corrosivo e destrutivo do que tal sentimento. Só há uma saída: fuja o mais rápido possível de tal emoção e siga em frente. Megan Reik
V ocê está sentindo pena de si mesmo? Por que isso? O que você acha que tal sentimento irá lhe trazer? Na realidade tudo o que você irá obter será um agravamento dos problemas que já tem e um aprofundamento do desespero que começou a experimentar.
Saiba que há uma notícia ruim e também uma boa notícia em relação à autopiedade. A má noticia é que você a está experimentando; ela é sua. A boa notícia é que você pode se livrar dela, da mesma maneira que decidiu adotá-la. Portanto, permita que a experiência de sentir pena de si mesmo escape para longe da sua vida. Tenha em mente que este é um artifício inútil do passado, e que deve ser abandonado o mais rapidamente possível, para o bem da sua saúde emocional.
Eis aqui a sua opção: você pode continuar lembrando a si mesmo quão ruim e injusta é esta vida, ou pode concentrar seus esforços naquelas coisas que são e naquelas que ainda podem vir a ser. Não importa quão deplorável seja a sua situação. A autopiedade não tem absolutamente nada de bom a lhe oferecer. Nem deve interessar quão difícil seja a sua realidade; sua melhor escolha – a qualquer hora – é entregar-se completamente a Deus e de uma maneira gradual e consistente experimentar um novo, continuado e salutar momento.
...esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus Filipenses 3: 13,14
Poltrona 23
Mas devo confessar minhas incredulidades. Caso você me pergunte se creio em Deus como meu Provedor, a resposta é um peremptório SIM. Mas se perguntar se isso significa que creio que jamais passarei por privações financeiras, jamais ficarei desempregado, jamais endividado, jamais irei mal nos negócios, jamais ficarei mais pobre do que sou hoje, jamais precisarei da ajuda de terceiros, a resposta desta vez é um peremptório NÃO.
Caso você me pergunte se creio em Deus como meu Condutor, a resposta é um peremptório SIM. Mas se perguntar se isso significa que creio que jamais tomarei decisões erradas, jamais escolherei o caminho da injustiça, jamais terei meus planos frustrados e castelos desmoronados, jamais ficarei indeciso e sem saber para onde ir, desta vez a resposta é igualmente um peremptório NÃO. Igualmente, caso você me pergunte se creio em Deus como meu Protetor, a resposta é um peremptório SIM. Mas se perguntar se isso significa que creio que jamais serei tocado pelas fatalidades, jamais serei alcançado pela tragédia, jamais serei ferido pela maldade, jamais serei injustiçado, jamais sofrerei perdas ou danos, mais uma vez a resposta é um definitivo NÃO.
A convicção quanto à provisão, orientação e proteção de Deus não nos isenta das possibilidades de fracassos, fatalidades, privações e ferimentos, tudo isso, ônus do direito de viver. A própria biografia de Davi me autoriza a tal afirmação. O início de sua trajetória rumo ao trono foi marcado por perseguição e ódio. Seu primeiro exército foi composto da escória da sociedade: endividados, angustiados e pessoas descartadas pela sociedade de então. Davi teve um filho que estuprou uma filha e depois foi assassinado pelo irmão. Depois disso, Davi usurpou seu poder de Rei e tomou para si a mulher de um de seus comandantes militares, que mandou matar: adultério e assassinato. O filho de seu adultério foi morto por ato disciplinar de Deus. O filho fratricida se revoltou contra sua autoridade e liderou uma rebelião no reino de Israel. Este filho rebelde foi morto pelo exército real e depois Davi teve que comparecer diante do povo para agradecer e honrar os assassinos do seu próprio filho, por quem chorou, desejando ter morrido em seu lugar. Qualquer pessoa poderia questionar que tipo de Provedor, Condutor e Protetor é esse que permite uma biografia marcada por tragédias, crimes, ódios, e pecados suficientes para determinar a infelicidade crônica de qualquer mortal.
Isso me leva a crer que as afirmações de Davi no Salmo 23 devem ser interpretadas de outra maneira, distinta daquela que nos leva a crer que Deus nos coloca dentro de uma bolha de bem-estar, conforto, e prosperidade inabaláveis. Por esta razão, creio que a expressão que sustenta o relacionamento entre Davi e Deus não apresenta Deus como Provedor, Condutor ou Protetor. Estas dimensões do relacionamento pertencem a Deus, e nas mãos de Deus está a prerrogativa de como prover, conduzir e proteger os seus. A expressão que determina a qualidade do relacionamento entre Davi e Deus é “tu estás comigo”. Caso você pedisse a Davi que descrevesse o seu Deus, ele deixaria de lado a teologia sistemática e falaria com o coração: Deus é meu grande companheiro. Ele está sempre comigo. Esteve comigo na caverna de Adulão. Esteve comigo quando Saul corria atrás de mim para me matar. Esteve comigo quando meus filhos se matavam e se odiavam. Esteve comigo quando eu não soube o que fazer para estancar o ódio dentro da minha casa. Esteve comigo quando eu andava pela escuridão usurpando, matando, mentindo. Esteve comigo quando meu filho conspirava contra mim. Esteve comigo quando eu precisei superar a minha dor para resguardar a autoridade do meu exército e preservar a unidade do exército e do povo. Deus é meu grande companheiro.
Minha leitura deste Salmo 23 me ensinou duas coisas essenciais. Primeiro, me ensinou que não devo basear meu relacionamento com Deus naquilo que Deus pode fazer por mim, mas sim naquilo que Deus pode fazer em mim. As expectativas que tenho a respeito de Deus não estão relacionadas ao que Ele pode fazer em minhas circunstâncias, mas sim ao que Ele pode fazer em meu coração.
Afirmar “o Senhor é meu Pastor e nada me faltará” implica um caminho livre de ansiedade e repleto de satisfação. Espero que o dia da escassez nunca bata à minha porta, mas se chegar, o que mais espero é poder dizer que “aprendi a estar contente em qualquer situação, porque Deus está comigo, e posso superar qualquer circunstância ruim naquele que me fortalece”.
Afirmar que “ele me conduz às águas tranqüilas, aos pastos verdejantes e restaura a minha alma”, implica um caminho de serenidade e saúde emocional. Tenho certeza que Deus tem o seu caminho no meio da tormenta, e mesmo no deserto, me levará aos mananciais onde poderei ser restaurado no corpo e na alma. Espero jamais passar pelo que Paulo apóstolo passou, mas caso necessário, o que mais espero é também poder dizer que “combati o bom combate, terminei a carreira e guardei a fé: estou inteiro e passaria por tudo novamente”.
Afirmar que Deus prepara uma mesa na presença dos meus inimigos e unge a minha cabeça com óleo, implica um caminho onde a alegria é possível mesmo quando o que é mal está diante dos nossos olhos. Espero que o ódio do mundo e do mal não se materializem contra mim de forma tão visível e explícita, mas caso aconteça, espero muito mais ter a coragem de continuar em frente, com os olhos fitos na mesa posta pelo Bom Pastor que me prometeu vida abundante no meio dos lobos.
A segunda coisa que aprendi lendo o Salmo 23 é que não devo basear meu relacionamento com Deus naquilo que Deus pode fazer por mim, mas no que eu posso fazer tendo um Deus como Ele. Diante dos vales de sombra da morte, não devo ficar esperando que Deus me leve para longe do vale, ou que Deus afaste do vale a sombra da morte. No dia em que tudo ficar escuro, espero me não me deixar tomar por um espírito de covardia, mas me levantar movido pelo espírito de amor, moderação, e poder, para atravessar o vale com a dignidade que somente os que afirmam “Deus está comigo” podem ter.
Que venha o futuro – ou melhor, eu vou ao futuro sentado na confortável Poltrona 23.